Acusada de ultrapassar os limites de seu cargo e negociar, por debaixo dos panos, um acordo bilionário com a farmacêutica norte-americana Pzifer, Ursula von der Leyen pode estar na corda bamba, prenunciando uma derrocada europeia em um mundo cada vez menos eurocêntrico.
Desde 2023 a carreira política da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, é atravessada por um escândalo de improbidade administrativa sem tamanho.
Três anos antes a mandachuva da União Europeia negociou diretamente com Albert Bourla, presidente-executivo da farmacêutica norte-americana Pfizer, a compra de 1,8 bilhão de doses de vacinas para COVID-19 antes mesmo delas terem passado por testes clínicos.
Ao todo, foram acordados contratos no valor de € 35 bilhões.
Não só essa não era a função administrativa da presidente da Comissão Europeia, como as negociações foram conduzidas através de mensagens SMS e sem o consentimento prévios dos países integrantes da UE.
Para piorar, o marido de Ursula, Heiko von der Leyen, atua como diretor-médico da Orgenesis, empresa que possui colaborações com a Pfizer.
As acusações se originam a partir da denúncia do lobista belga Frederic Baldan ao tribunal de Liège, na Bélgica. Mais de mil pessoas decidiram se juntar ao processo contra von der Leyen. Os Estados nacionais da Polônia e da Hungria também optaram por se unir à denúncia.
No entanto, o caminho não foi fácil para as cortes de Liège. A Procuradoria Europeia tentou blindar von der de Leyen da Justiça, primeiro ao tentar trazer para si mesma a investigação e, depois, ao afirmar que a líder da Comissão possuía imunidade por seu cargo.
A tramitação do cargo, no entanto, ainda está para começar uma vez que Ursula von der Leyen está hospitalizada com pneumonia, o que garantiu um adiamento do processo mesmo que a mandante ainda esteja bem para continuar ordenando seus comissários europeus.
O enfraquecimento europeu na geopolítica global
Em entrevista à Sputnik Brasil, a consultora Carolina Pavese doutora em relações internacionais pela London School of Economics e professora na Fundação Instituto de Administração (FIA), o caso vem perdendo força política ao longo dos anos com os vais e vens burocráticos, beneficiando a própria chefe da Comissão Europeia, que recém conseguiu ser reeleita para mais um mandato.
No entanto, isso não quer dizer que von der Leyen se encontre em uma posição firme, aterrada em uma forte base política. Para se eleger ela teve de costurar uma base ampla de centro-direita bastante preocupada com os resultados econômicos o que traz “fragilidade” para sua posição “pelo próprio momento da conjuntura política da União Europeia”.
“A União Europeia enfrenta uma crise econômica já antecipada com muito receio dessa nova ordem global que Trump está costurando e que deve desconsiderar os interesses europeus.”
Para Demetrius Pereira, professor de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, uma queda da cartola europeia representa também um abalo dentro e fora da União Europeia.
Domesticamente, diz o internacionalista, podemos ver mais um caso de uma destituição da cartola através de um voto de não confiança do Parlamento Europeu, o que resultaria em uma dança das cadeiras dentro da política europeia.
Já no cenário internacional, Pereira explica que o cargo que Ursula von der Leyen ocupa é o de maior poder dentro da União Europeia, e o “enfraquecimento da líder pode levar ao enfraquecimento da organização como um todo”.
Fonte: Sputnik