Nova regulamentação impulsiona modernização e deve transformar a dinâmica do crédito no país
Com a taxa Selic em 15% ao ano, o crédito empresarial segue caro e escasso para grande parte das empresas brasileiras. Neste cenário, a duplicata escritural, versão digital e registrada da duplicata tradicional, surge como uma das principais apostas do Banco Central para destravar até R$ 10 trilhões em crédito até 2027. A obrigatoriedade da nova modalidade começa a ser implementada no primeiro semestre de 2026, com impactos diretos tanto para fornecedores quanto para os grandes pagadores.
A regulamentação cria um ambiente mais transparente, seguro e auditável para as operações com duplicatas. Hoje, muitas empresas ainda operam com processos manuais ou pouco rastreáveis, o que gera riscos operacionais e limita a liquidez. “A expectativa é que o novo modelo transforme a dinâmica de crédito no país, como vimos com os recebíveis de cartão. Agora, com o registro centralizado, temos mais segurança jurídica para todos os envolvidos”, afirma Ricardo Vieira, do Banco Central.
Na prática, o sistema promete romper com um gargalo histórico do setor: atualmente, grandes sacados restringem a negociação de duplicatas pelos seus fornecedores, justamente porque o controle é complexo e repleto de riscos. Além disso, uma mesma duplicata pode ser negociada com mais de um financiador, ou sequer ter lastro real. Com o modelo escritural, o título é registrado em uma escrituradora autorizada, o que garante unicidade, manifestação do sacado sobre o cumprimento da obrigação e liquidação apenas ao titular legítimo.
“Isso reduz significativamente o risco e, por consequência, as taxas de antecipação. Com mais segurança, o mercado tende a liberar mais crédito e a custos menores”, explica Izaias Miguel, co-CEO da V360, empresa especializada em gestão de recebíveis.
O que muda para as empresas
Para os fornecedores, a duplicata escritural representa uma oportunidade concreta de ampliar o acesso a crédito com menos burocracia e juros mais baixos, um alívio importante em um cenário de aperto monetário.
Já para os sacados, o desafio é se adaptar às exigências técnicas e operacionais do novo sistema. “Empresas com grandes volumes de pagamento precisarão se adequar rapidamente para evitar riscos como pagamentos indevidos, divergências no domicílio bancário, contestação de notas ou até multas e sanções regulatórias”, alerta Miguel.
Embora a obrigatoriedade comece com as grandes empresas e seja escalonada ao longo do segundo semestre de 2026, os efeitos já poderão ser sentidos antes, assim que os primeiros registros forem realizados. A expectativa é que o impacto seja semelhante ao observado no mercado de recebíveis de cartão: maior pulverização do crédito, mais concorrência e taxas menores.
Especialistas recomendam que as empresas iniciem desde já os ajustes necessários para evitar gargalos futuros. Isso inclui revisão de processos, integração com plataformas de registro e capacitação interna. Antecipar-se à nova regra não apenas reduz riscos operacionais, como também posiciona o negócio de forma estratégica em um mercado de crédito mais aberto, competitivo e seguro.
da Assessoria